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Com o fim da obrigatoriedade do imposto que mantém essas associações, a quantidade de profissionais ligados às entidades pode cair ainda mais nos próximos anos
São Paulo – O impacto da crise econômica sobre o mercado de trabalho fez a quantidade de pessoas sindicalizadas diminuir. É o que indicou um levantamento divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Feita com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), a análise mostrou que 12,1% das pessoas estavam associadas a algum sindicato no País em 2016. Um ano antes, esse percentual chegava a 13,1%.
De acordo com a porta-voz do estudo, cerca de um milhão de trabalhadores deixaram de fazer parte dessas associações durante os dois anos de recessão. “Até 2015, o patamar de sindicalizados ficava estável, acima dos 13%”, diz Adriana Beringuy, técnica da coordenação de trabalho e rendimento do IBGE.
E essa parcela pode recuar ainda mais nos próximos anos. Isso porque o imposto sindical deixará de ser obrigatório no mês que vem, quando entrará em vigor a reforma trabalhista.
De acordo com Bruno Ottoni, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), a tendência é que os grupos que representam os trabalhadores percam força a partir do próximo ano. “Alguns sindicatos devem deixar de existir quando o imposto não for mais obrigatório”, afirma ele.
Entretanto, o entrevistado diz que a recuperação econômica deve estimular a geração de emprego, o que poderia balancear, um pouco, as perdas causadas pela mudança na legislação trabalhista. “Se os sindicatos conseguirem atrair as pessoas que estão voltando para o mercado, o impacto da reforma poderá ser menor.”
Para a diminuição do número de sindicalizados durante os anos de crise, foram determinantes o aumento do desemprego e a migração de milhões de pessoas para trabalhos mais precários, afirma Adriana.
“Muitas atividades econômicas que contavam com grande participação de sindicatos, como a construção civil e a indústria, foram muito afetadas pela recessão e demitiram muitos trabalhadores.”
Efeito da reforma
Favorável à reforma trabalhista, Bruno diz não concordar com o fim repentino da contribuição sindical obrigatória. Na opinião do especialista, seria melhor uma transição gradual entre o pagamento compulsório e o voluntário. “Alguns sindicatos prestam serviços importantes para as pessoas, ajudando a garantir direitos trabalhistas. É importante ter cuidado ao fazer alterações relevantes nessa área”, diz ele.
Bruno também critica a abordagem da reforma sobre os sindicatos, que considera ser contraditória. “Ao estabelecer a prevalência do negociado sobre o legislado, é dada maior importância à representação dos trabalhadores. Mas, ao mesmo tempo, a reforma prejudica a principal forma de financiamento desses grupos.”
Mulheres são minoria
De acordo com o levantamento do IBGE, 11,2% das mulheres que estavam trabalhando ou que mantiveram o vínculo sindical após deixar o mercado estavam ligadas às associações de representação em 2016, enquanto que 13,1% dos homens estavam nessa situação. Somados os dois sexos, 16,9 milhões de pessoas estavam sindicalizadas no ano passado.
De acordo com Adriana, essa disparidade é causada pela tradicional predominância masculina em atividades como a construção civil e a indústria de transformação, que contam com maior participação das entidades sindicais.
Fonte: Jornal DCI, por Renato Ghelfi
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